
REPORTAGEM
_ O IMPACTO DA PARTICIPAÇÃO FEMININA POR TRÁS DAS TELAS
Diretora, roteirista e produtora executiva.
Das 52 obras analisadas no Teste de Lisbela, apenas 7 são dirigidas por mulheres. Duas são co-direções com homens.
Além disso, só 20% dos filmes foram roteirizados por uma mulher.
Apenas 2 longas tiveram seu roteiro e direção sob comando feminino (a franquia Meu Passado Me Condena).
Vale destacar que nenhum deles foi dirigido ou roteirizado por uma preta ou nascida fora do eixo Centro-Sul do país.

Helena Solberg é a única mulher considerada a participar do Cinema Novo.
Imagem: Reprodução
A Pesquisa sobre Diversidade de Gênero e de Raça no Audiovisual, entre os anos 2015 e 2016, realizada pela Ancine, aponta que a única posição em que o feminino é maioria é na produção executiva.
Essa também é a única função técnica em que há mulheres pretas.
A produtora de desenvolvimento na Conspiração Filmes e professora de Mecanismos Federais de Incentivos Fiscais para a Produção Audiovisual, Raquel Leiko, esclarece esse cenário.
Leiko também conta que o caminho feminino é muito mais árduo quando se trata de alcançar cargos de maior influência.
Por isso, algumas podem até mesmo recorrer a artifícios masculinos.
_ O ABUSO E O ASSÉDIO
No backstage as mulheres também enfrentam situações de assédio e de abuso moral, sexual e patrimonial. Das cinco entrevistadas para esta reportagem, três trouxeram o assunto para a discussão.
De fato, o relatório publicado em 2021 pelo departamento de mídia, entretenimento e artes da UNI Global Union e pela Federação Internacional de Atores (IFA), mostra que 87% das mulheres latino-americanas já foram vítimas de assédio e violência no ambiente de trabalho.
No Brasil, alguns grandes casos chegaram a grande mídia, como o de José Mayer, que em 2017 foi acusado de assédio sexual por uma figurinista e teve apoio de atrizes como Taís Araújo, Cissa Guimarães e Glória Pires com o lançamento da campanha “Mexeu Com Uma Mexeu Com Todas”.


Atrizes da Globo durante manifestação "Mexeu com uma, mexeu com todas".
Imagem: Reprodução
Outro caso foi do ex-diretor de humor Marcius Melhem, que foi denunciado em 2019 por assédio sexual e moral por oito mulheres que eram suas subordinadas, incluindo a atriz Dani Calabresa. Além desses, em 2020 o The Intercept denunciou o caso de Gustavo Beck, acusado de abusar sexualmente de 18 mulheres.
Algumas das vítimas disseram ter evitado denunciá-los por medo da influência desses homens no audiovisual, assim foi o caso do produtor de cinema americano Harvey Weinstein em 2017. Publicada no “The New York Times” no dia 5 de outubro daquele ano, a reportagem intitulada “Harvey Weinstein pagou os acusadores de assédio sexual por décadas” escancarou as denúncias de abuso.
As vítimas passaram a usar a hashtag #MeToo nas redes sociais para contar os seus relatos. Além disso, no Globo de Ouro seguinte aconteceu um protesto inédito, quando as atrizes como Meryl Streep, Emma Stone e Elisabeth Moss usaram roupas pretas para expressar sua indignação contra os atos de abuso em Hollywood.
Cerimônia do Oscar de 2018
Imagem: Reprodução

#METOO
O movimento #MeToo foi criado em 2006 com o intuito de promover a empatia entre mulheres negras que foram vítimas de abuso sexual.
O gatilho foi quando uma menina de 13 anos contou para Tarana Burke que havia sido abusada sexualmente. A ativista afro-americana nascida no Bronx, nos Estados Unidos, na hora não soube o que falar. Mas, mais tarde entendeu que queria ter dito apenas “eu também”.
A campanha transcendeu a bolha afro-americana e, atualmente, pode ser vista em diversos setores da sociedade global.
_ AS DINÂMICAS DO BACKSTAGE
A diretora Carla Villa-Lobos concorda que, nesses ambientes majoritariamente masculinos, os homens têm uma liberdade maior para se impor. Em uma tentativa de mudar este sistema, ela afirma que a busca por uma maneira mais horizontal torna este local mais seguro e leve.
Já a roteirista de produções como Linda de Morrer (2015), Filhas de Eva (2021-presente) e A Grande Família (2001 - 2014), Jô Abdu, relata sua vivência e explica as dinâmicas patriarcais que envolvem o desenvolvimento de um produto audiovisual.
Taís Nicolino, coordenadora de produção que atua há 20 anos no mercado multimídia, alerta que o espaço para crescimento feminino ainda é tratado como uma obrigação por parte das produtoras. Quando, na verdade, as profissionais são necessárias na construção de todas as narrativas.
A diretora Gabriela Gaia Meirelles reforça que essa representação no backstage não pode ser pensada apenas pela lógica da branquitude. Mas sim, que a representatividade por trás das câmeras é urgente. Uma vez que o audiovisual deve ser um ambiente com espaço para todas as mulheres.